Chivas, o bardo

Eu não imaginava que iria dar certo. Veja bem, quando um grupo de aventureiros desafortunados em ambos sentidos precisam de alguma ressurreição, eles vão naquele que for mais barato, sem questionar muito pra não ficarem com peso na consciência.

É o que aconteceu com os Furões do Deserto. Que tipo de nome é esse? E que tipo de grupo não tem nenhum clérigo, ou paladino, ou qualquer membro que entenda o mínimo de religião? Enfim, não era de se estranhar que em um grupo inútil, o mais inútil havia morrido. Estamos falando, é claro, do bardo.

Após uma missão semifracassada, que resultará em duas mortes (apenas uma com o corpo semiintacto) os aventureiros buscaram a recompensa (4 moedas de prata) e procuraram por um clérigo que ressuscitasse o bardo deles.

Enquanto eles procuram o tal clérigo, eu vou apresentar a vocês o Stu. Um humano bem menor que o esperado, Stu sempre era confundido com um halfling, ou com uma criança. Ele nunca foi muito inteligente, mas sempre foi muito sensível aos deuses, não que eles se importassem. Bem, dois deuses entediados se importaram: Hynnin e Nimb. Trapaça e Caos. Lógico que eles não mostraram a verdadeira face para Stu. Eles não levavam o Stu a sério, ninguém o fazia. Nesse ponto o pequeno humano adulto era apenas um novo brinquedinho compartilhado dos dois que se apresentaram a ele como Luican, o deus menor da ambiguidade, com quem tudo pode ou não ser. Stu nunca questionou, eram tantos deuses menores em Valkaria que ele achava impossível que se soubesse de todos, e pra ele pouco importava pois Luican tinha visto ele e o escolhido pra ser seu sumo sacerdote.

Voltando ao grupo de aventureiros desventurados, enquanto eles procuravam ajuda Stu os encontrou. A princípio eles não conseguiram acreditar que aquele ser era um sumo sacerdote de qualquer coisa, mas então ele propôs que fizesse primeiro a ressurreição, e depois que Chivas, o bardo, estivesse respirando eles o pagariam apenas 2 moedas de prata, para servir de pagamento a Luican. O bando concordou, acharam que não tinham o que perder. Nimb e Hynnin porém estavam de fato dispostos a dar vida ao corpo de Chivas, porém queria fazer um pequeno experimento...

O que os olhos podiam ver eram as feridas se curando, a podridão desaparecendo, cortes, queimados, e até pequenas cicatrizes se curando de forma que a pele de Chivas ficava melhor até mesmo do que era antes da tragédia que lhe ocorrera. Aos poucos o peito e a barriga de Chivas começavam a se mexer. Não foi um trabalho rápido, Stu passou cerca de 40 horas direto próximo a Chivas rezando a Luican e deixando que seu deus fizesse o milagre.

O que não podia ser visto é o que foi feito na mente de Chivas. É difícil explicar o que ocorre dentro de uma cabeça, mas vou tentar explicar pra vocês. Imagine um terreno abandonado e alguém que faça uma limpeza lá e constrói um pequeno galpão. Lá eles colocaram uma enfermaria com um quarto de paredes invisíveis e capaz de ser trancado apenas por fora colocaram também uma cabine de comando e algumas coisas pra nos divertimos em momento de tédio. Sim, é nessa parte que eu entro. Nasci em Al-Gazara (se é que alguém pode nascer lá) e nunca tive um corpo. Pedi a meu pai Nimb que deixasse eu ir a Arton e encarnar, ele me ignorou, mas lembrou depois quando estava com seu brinquedinho novo. "Achei um lugar pra você! Um corpo, na verdade, e você vai ter que dividir com dois coleguinhas, espero que não se importe, tchau!" E então eu estava nesse galpão, não fazia ideia de como as coisas funcionavam, Nimb jamais iria me explicar e a outra... pessoa que estava lá estava totalmente inconsciente. Pouco tempo depois chegou um guerreiro, força grande, cérebro pequeno. Ele havia sido traído quando em vida e agora queria vingança, Hynnin disse que o ajudaria dando a ele um corpo novamente. De repente estavamos nós 3: O moribundo Chivas, o guerreiro estupido Loen e eu Kadett, que só quero curtir o que chamam de vida.

Aos poucos fomos assumindo o controle, o que eu aprendia na biblioteca do Chivas eu avisava a Loen, para tentarmos manter alguma aparência e saber como aquele corpo funciona. Decidimos manter Chivas preso e muitas vezes sedado. Ele já usou esse corpo demais, agora é a nossa vez. Enquanto um fica no controle, o outro descansa, assim podemos aproveitar bem as coisas. E Chivas? Está lá, apagado, mal sabe que seu grupo desistiu dele depois de alguns desentendimentos. Jamais deixaria esse corpo perto de gente tão incompetente. Hoje encontramos um grupo desequilibrado que aceita tanto eu quanto o Loen e estamos bem assim.

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